Fecharemos a nossa história com a bailarina Lucy, a mais contemporânea de todas elas, ao lado de Fifi Abdo. Temos aí duas bailarinas de personalidade forte, voz e quadris bem ativos (uma briga boa, rs)! Porque até hoje elas se fazem presentes no mundo bellydance e por onde passam deixam o seu recado. São consideradas parte do legado da golden age, por serem a última geração de bailarinas com muitas experiências trazidas de lá…

Apesar da importância de Lucy para a Raks, pouca informação temos sobre o seu passado. O que sabemos é que ela nasceu no Cairo antigo, perto da Rua Mohamed Ali, e cresceu ouvindo as músicas de Om Kalsoum e o folclore do seu povo. Foi assunto de um documentário nacional em 91 e hoje é dona do Parisiana, um nightclub localizado em Giza, distrito do Cairo, perto das pirâmides. Lá ela recebe turistas do mundo todo, sendo a atração mais esperada da noite. Ela adora dançar e é muito popular entre os egípcios. Eles dizem que não há como ir ao Egito e não assistir a uma de suas performances.

Segundo o site Albawaba, Lucy se casou aos 16 anos e vive com o mesmo marido até hoje. Para a estrela, a dança não é e nunca será pecado! É uma profissão como qualquer outra e ela não está cometendo nenhum crime. Ela considera 99,9% das bailarinas egípcias respeitáveis e pensa em um dia escrever a sua biografia para mostrar o quão honrada pode ser a vida de uma bailarina. Revelou também que não teme a ascensão islâmica na política, desde que seja para melhorar a vida dos cidadãos. Ela inclusive apoiou a iniciativa do conhecido islâmico Sheikh Hassan, de recolher doações dos egípcios mais abastados para que o Egito não dependesse de nenhum auxílio americano. Então a diva resolveu que doaria todo o faturamento de um dos seus trabalhos na TV, ”Al Basha Walidah” ​​(A mãe de um Pasha) e mais uma quantia extra para colaborar com a causa, e gostaria muito que os países árabes vizinhos também se sensibilizassem! Não tem nenhuma intenção de renunciar a sua carreira para usar o “hijab” (vestimenta islâmica), diz que ainda é muito jovem e tem muito a acrescentar a dança. E quando finalmente decidir parar de dançar, quer abrir a sua própria escola…

Com a minha influência e reputação terei milhares de aprendizes e passarei a nossa arte adiante, diz ela.

E por essa enorme contribuição como figura pública, um carisma inquestionável e uma dança muito forte e marcante, Lucy fecha com chave de ouro o quadro das bailarinas antigas. E todas as bailarinas que surgirão depois dela já são consideradas atuais. Nomes como Dandash, Dina e Randa Kamel continuam contando essa história em tempo real e definem o cenário da dança atual.

Fonte: http://www.albawaba.com/

E como eu prometi, agora temos um estudo completo da herança deixada pela Era de Ouro para a Dança Árabe. Espero ter contribuído para o estudo de vocês, cedendo parte da minha pesquisa para o espetáculo Zaghareet 2013 que contará tudo isso em forma de dança! A minha intenção foi criar textos bem objetivos para que qualquer pessoa, do meio ou não, pudesse embarcar nessa viagem. Mas a verdade é que na íntegra, o meu estudo  foi muito mais amplo e algumas informações não foram relatadas aqui para não perdermos o foco e não ficar cansativo. Mas eu não poderia deixar de dizer que sabendo um pouco mais da vida pessoal desse time de estrelas, tenho ainda mais orgulho de fazer parte de uma das gerações e povos que se apaixonaram pela Raks. Dança que eu me dedico há 12 anos, que me surpreende e me encanta a cada dia.

Essas pessoas fizeram a diferença, gente! Não só trouxeram mais romantismo e poesia para a sua época, como conseguiram inspirar gerações e gerações de bailarin@s e continuam sendo uma fonte inesgotável de estudo. Fizeram com que todos entendessem a Raks el Sharq como profissão e como arte, este pra mim foi o maior legado da era dourada. E é isso que não podemos deixar ficar esquecido enquanto apreciadores, estudiosos, orientadores, divulgadores e viabilizadores desta arte. Acredito que quanto mais abordarmos este tema, entenderemos melhor a dança de hoje, com todas as suas influências e ramificações. E que esta é uma arte que sofreu e sofre modificações todos os dias, a medida que mais povos e culturas se encantam e emprestam os seus sentimentos para desenvolver o estudo da dança que saiu do Leste para o mundo. Mas acredito também que existe uma essência inabalável e que não pode ser perdida. E é por isso que voltar no tempo é preciso, e se faz necessário, em todos os cantos em que se estude Dança Árabe*. Porque para saber para onde vamos, temos que saber de onde viemos.

* Depois de muito pesquisar e debater com amigos e parceiros, entendo que Dança Árabe seria a expressão mais adequada para definir o estudo da Raks el Sharq (Dança do Leste, Bellydance, Dança do Ventre e porque não, Dança Egípcia?) e do Folclore Árabe (os costumes e tradições do povo árabe). E essa é a forma que eu me refiro a arte que escolhi como ofício!

Nos tornamos parte da História quando construimos a nossa pensando em fazer a diferença de alguma maneira Lis de Castro

FIM